Diversos casais estão optando por não ter filho e ter animais de estimação. É mais fácil encontrar casas com cães do que com crianças.
Em 2013, na Pesquisa Nacional de Saúde, feita pelo IBGE, 17,7% dos domicílios brasileiros tinham pelo menos um gato e 44,3% tinham pelo menos um cachorro. O número estimado somente de cães vivendo nesses lares é de mais de 52 milhões. Nesse mesmo ano, o IBGE fez uma pesquisa que apontou que o Brasil tinha apenas 45 milhões de crianças de até 14 anos.
Alguns casais, que se sentem despreparados para ter um filho, adquirem um bichinho para treinar e averiguar se podem ou não ter um bebê humano. O peludo passa a ser o centro das atenções, receber todo o carinho e dedicação do casal. E quando é chegado o momento, o bebê é gerado. Durante a gravidez e com o nascimento do bebê fofinho, o animal de estimação é deixado de lado. Sem atenção e sem carinho como era antes, ele passa a ter comportamentos inadequados. Xixi fora do lugar é o campeão de reclamação. Mas há casos piores, como agressividade e até fuga.
Há como evitar esses problemas e ter uma convivência tranquila entre o peludo e o humano. O primeiro passo é aceitar que o animal de estimação também é da família e deverá ser preparado para a nova fase. Muitos são os casos de famílias que doam seus animais diante da chegada do bebê humano.
As irmãs Isabela e Isadora Abussamra são provas de que é possível ter um animal em casa, engravidar e ter o bebê humano. Mesmo com algumas pessoas contra, as duas não abriram mão dos seus animais e hoje todos convivem em harmonia. “Eu tinha a Lua (foto aos lado) há 13 anos, quando eu engravidei. Fiz uma preparação, levei a roupinha do bebê para ela cheirar. Quando chegamos da maternidade, apresentamos a Lua aos poucos para o bebê. Hoje eles convivem tranquilamente. Ela só estranha quando ele chora”, conta Isadora.
Com a Isabela não foi tão fácil assim. Ainda quando morava com a mãe, ela adotou a Pérola, uma SRD assustada, antissocial, mas muito carinhosa. Quando descobriu que estava grávida, foi morar com o namorado e levou a Pérola junto. Foi então que começaram as preocupações. A cachorra ainda estava em processo de adaptação, em treinamento. Com dificuldade de aceitar pessoas estranhas, a Pérola latia e mordia as visitas. Como ela reagiria diante de um bebê?
Antes de saber que estava grávida, Isabela contratou uma terapeuta do comportamento animal, para ajudar a lidar com as dificuldades da Pérola. Ainda assim, a preocupação perdurava. “A Pérola sempre foi muito agitada e pulava. Tinha medo que ela pulasse no bebê, machucasse e até mordesse. Mas o maior medo era a reação dela com visitas e com a babá” confidencia Isabela. “Desde o começo, eu conversava com a Pérola. Mostrava a barriga e falava que tinha a neném dentro. Ela sempre lambia a barriga” comenta.
Logo que a bebê nasceu, Isabela chamou novamente a terapeuta. “Eu percebi que era uma prisioneira na minha própria casa. Eu ficava no quarto o dia inteiro com a bebê, enquanto a Pérola ficava solta no resto da casa. Eu tinha muito medo de sair com a bebê e a Pérola agitada querer pular, para ver a bebê, e machucar. Eu cheguei a cogitar a doação da Pérola” desabafa Isabela.
“No dia que ela (terapeuta) veio em casa, eu consegui passar o portão e vi que é possível ter as duas no mesmo ambiente. Hoje eu consigo amamentar a bebê, com a Pérola ao meu lado. Estou mais tranquila, mas sei que ainda há muito pela frente” continua Isabela, mãe da bebê de quatro meses. Hoje, recebi um vídeo da Pérola lambendo a mão da bebê. As duas são muito felizes juntas e não se desgrudam!
Esse final feliz não é para todos. Flávia Prado, orientadora profissional, tinha o Toy há 5 anos. “Ele descobriu antes que eu, que estava grávida. Ele passou a ficar agressivo do nada. Fiz o teste e confirmei o que o Toy já sabia. Desde então, ele nunca mais foi o mesmo” relembra Flávia. Sua relação com o cachorro era muito próxima. Com a chegada do bebê, ele não dava mais atenção para sua amiga humana. Só queria saber do marido. Muito assustado, começou a latir e até a morder.
Sem saber o que fazer, Flávia buscou ajuda profissional. Nada parecia ajudar aquele quadro de tristeza do cãozinho. “Depois que o bebê nasceu, o Toy só piorou. Busquei cinco adestradores. Ninguém conseguiu resolver. Um dia o Toy mordeu o bebê. Levamos ao hospital para dar pontos e o médico sugeriu que doássemos o cão. Muito triste, busquei um veterinário, que disse que o Toy precisava de uma casa mais calma” lamenta Flávia. Como você já deve imaginar, o peludo foi doado. Hoje, o bebê já tem cinco anos, mas Flávia não esquece o Toy: “O que me conforta é saber que ele está melhor agora, na nova casa, cuidado por pessoas que gostam muito dele. Mas não passa um dia sem que eu pense nele”. Quando questionada sobre o que poderia ter feito diferente, Flávia conta que devido à gravidez difícil que teve, não fez a aproximação do Toy e do bebê como deveria.
Aqui vão algumas dicas, que podem ajudar a apresentar o animalzinho ao bebê:
– converse muito com o cão/gato. Conte para ele que virá um bebê;
– mantenha a rotina do animal, com passeios, brincadeiras e interações;
– deixe o bichinho cheirar as roupinhas do bebê. Sempre que ele ficar feliz e tranquilo, recompense com carinho ou petisco;
– quando o bebê nascer, apresente-o para o pet, sem forçar, de forma calma, recompensando as atitudes positivas;
– associe situações legais ao bebê, como brincar e comer;
– passeie ou brinque com o bebê e o animal ao mesmo tempo;
– ensine que há momentos só para o cão/gato e só para o bebê;
– o momento de interação deve ser calmo para animais e bebê. Evite falar alto e fazer muita festa, para não deixar o pet agitado ou irritado;
– não permita que o bebê puxe o pelo ou qualquer parte do corpo do animal;
– mostre para o bebê e para o pet, quais os objetos e brinquedos de cada um;
– dê atividades agradáveis para o pet, enquanto estiver cuidando ou amamentando o bebê;
É totalmente possível ter animais e bebê em uma mesma casa, sem ter acidentes. Se estiver com receio ou com dúvidas, faça como a Isabela e contrate um profissional para lhe orientar. “Às vezes, achamos que estamos fazendo o melhor, mas não estamos. Ter o acompanhamento e as dicas de um profissional ajuda muito. Facilita para que a aproximação do cão (ou gato) e do bebê seja bem sucedida, e acabam os receios” aconselha Isabela, e finaliza “É preciso respeitar o tempo do animal, também. Cada um tem sua personalidade, mas o animal faz parte da família!”.
Fonte: Luiza Cervenka De Assis – Vida-estilo.estadao.com.br | Fotos: Divulgação.